Eugénio Costa Almeida
Periodicamente, António Neto, líder do PDA, numa forma de mostrar que ainda está vivo politicamente, reclama a realização de uma segunda volta relativo às eleições presidenciais ocorridas há cerca de uma dúzia de anos.
Até agora as suas reclamações têm sido objecto de indiferença, até porque Neto teria sido o terceiro posicionado nas referidas eleições. O segundo mais votado foi Savimbi, entretanto falecido.
Eis que, quando nada fazia esperar, José Eduardo dos Santos surpreende meio mundo político ao divulgar numa reunião ordinária do “politburo” do MPLA que iria solicitar ao Supremo Tribunal que analisasse a necessidade de se efectuar, ou não, a referida segunda volta das eleições presidenciais, neste caso entre ele, primeiro posicionado, e António Neto.
Ou seja, quando tudo parecia indicar que o sistema político estava, desta feita, a entrar nos “eixos” com a marcação das eleições legislativas, a perspectiva da aprovação da nova Lei Constitucional e as eleições presidenciais eis que Eduardo dos Santos dá uma de Mestre podendo com esta atitude quase perpetuar a sua permanência no poder.
Senão, atentemos.
Caso o Supremo confirme a necessidade de se realizar a segunda volta, - não sei se será legal, mas legítimo será – o vencedor terá todo o direito de permanecer como inquilino do Palácio Presidencial durante uma magistratura, ou seja, cinco anos.
Assim, dos Santos que deveria sair dentro de, mais tardar, dois anos – não prospectivo que se recandidatasse a mais um mandato – eis que encontra um renovado interesse pela manutenção, em princípio legal e legítima, do cargo de mais alto Magistrado da Nação.
É que não vislumbro uma vitória de Neto; em qualquer dos casos...
Mesmo que social e politicamente esta eventual segunda volta seja um perfeito absurdo, como o já afirmei, várias vezes, nomeadamente no meu blogue, temos de reconhecer que esta atitude é um coelho tirado da cartola.
Digam lá se não é de Mestre.
Entretanto, Isaías Samakuva, líder da UNITA, veio a terreiro desmistificar a necessidade de uma segunda volta.
Para Samakuva a realização de uma eventual segunda volta ente Eduardo dos Santos e António Neto, do PDA, é uma questão "ultrapassada" até porque para o líder da oposição angolana, o eleitorado actual não é o mesmo que votou em 1992 na primeira volta.
Haja alguém que demonstre ter bom-senso e que este seja também partilhado pelo Supremo Tribunal.
Realmente fazer uma segunda volta entre um candidato a quem, a certa altura Savimbi chamou de “meu presidente”, e um candidato que obteve cerca de 2,16% de votos expressos, mais do que brincar às democracias e delapidar o erário público.
E nós sabemos que Angola tem mais onde melhor gastar o dinheiro.

Publicado no "Semanário África", 13.Dez.2004; pág. 24
Partilhe este artigo
Pin It

Escreva-me

Pesquise no site