Alguém me explica como é que um país “gerador” de pescado fica satisfeito porque o “extractor” lhe aumentou em cerca de 100 mil euros (cem mil, quase o preço de um pequeno apartamento em Portugal) pela autorização da captura de pescado santomense?
Passou de pouco mais de 700 mil euros para cerca de 850 mil euros. E dessa esmola, porque de uma esmola se trata, 50% será para cobertura de despesas governativas e 50% para melhorar a actividade piscatória santomense. Mas qual?
Se depois vemos que a maioria dos produtos de São Tomé e Príncipe não podem entrar na Europa porque esta não reconhece qualidade frigorífica aos produtos frescos e pescados santomenses. Como é que alguns países africanos continuam a ver ser explorada a sua riqueza piscatória quase até à exaustão – menos barcos não significa, necessariamente, menos pescado; e a frota espanhola não sabe, por natureza, até onde devem ir os seus limites – através de acordo leonino para a União Europeia, só porque lhes acenam com uns míseros euros.
Marrocos, foi um dos que bateu o pé, e durante quase dois anos a Europa, nomeadamente Espanha e Portugal, não viu “um pescado” do seu vizinho mais próximo e quando a situação se tornou insustentável para os barcos espanhóis, estes forçaram a UE a celebrar um acordo com os marroquinos. E, de certa forma, quase aconteceu o mesmo quando Angola travou a vontade da euro - comunidade na renovação de quotas que pôs os barcos piscatórios espanhóis, os principais predadores, quase de cabelos em pé. É altura de dizer basta!
É altura de dizer à União Europeia que se quer pescado deverá fazê-lo, não em barcos seus mas em barcos dos países signatários, com comparticipação europeia na sua concepção e fabrico, mas, e sempre, sob comando de comandantes dos países africanos. Não os há? Formem-nos e eles aparecerão. Ganha a UE e, claramente, ganharão tanto os países africanos como ganhará, em qualidade, o pescado africano. Até lá, é altura de dizer basta!Basta de explorarem os recursos hídricos e piscatórios dos outros depois de destruírem os dos seus países.
Publicado no site "Africamente" em 26.Mai.2006