Como é aceite e aprovada a convocação de um Congresso de um partido quando, estatutariamente, só o presidente desse partido o pode fazer?
Pois isso foi o que aconteceu neste fim-de-semana com a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA – para quando o partido entrega este nome que pertence à História angolana ao Museu da História do país e adopta um nome político para as suas actividades partidárias?) já que quem convocou o Congresso foi a ala afecta a Lucas Ngonda, que já chegou a dirigir o partido e, mais tarde, admitir partilhar o poder com o líder histórico por partido Holden Roberto, com o cargo de primeiro vice-presidente, devido a circunstância quase similares às actuais, em vez do presidente em exercício, Ngola Kabango, indicado por Holden para o substituir, enquanto este estivesse, por razões de saúde, no exterior do país.
Sabendo que o Congresso da FNLA não estava legitimado nem, tão-pouco, legal como puderam as autoridades angolanas, nomeadamente os ministros da Comunicação Social, do Interior, da Justiça, o Procurador-Geral da República, o governador de Luanda e o Comandante-Geral da Polícia, a quem lhes foi pedido que impedissem a realização e não divulgação pública do eventual ilegalizado congresso não responderem ao único, estatutariamente, legítimo presidente, mesmo que em exercício, da FNLA?
Como pôde o Congresso ter continuado se dois dos eventuais candidatos a líder do partido, por sinal e até há pouco tempo, muito próximos de Lucas Ngonda, Carlinhos Zassala e Miguel Damião também terem, publicamente, afirmado que não reconheciam legitimidade e legalidade a este Congresso?
Bom, quando um partido, por razões de divisão interna, vê as autoridades financeiras angolanas – sob que legitimidade? – confiscar os fundos desse partido, já nada começa a surpreender.
Por isso, não surpreende que o Congresso que era para durar 3 dias tenha acabado mais cedo e que Lucas Ngonda tenha sido eleito presidente com os favoráveis 1093 votos, dos 1400 militantes presentes no Congresso, contra 315 de Luís Ndulo.
Mas como se pode governar um partido sem fundos? Não esqueçamos que eles estão cativos por ordem do Ministério das Finanças angolano. Por isso, não surpreende que, tal como nos finais da década de 90, este Congresso acabe por ficar sem efeito e Ngonda, que afirmou no final do Congresso que o mesmo tinha aberto as portas à reconciliação, acabe por devolver, de novo, o poder aos históricos.
Entretanto, bem pode a oposição angolana ir continuando a pregar no deserto e queixar-se ao Secretário-Geral da ONU, Kofi Annan pelos atrasos na realização de eleições, quando dá imagens destas ao povo angolano e continua a oferecer vantagens ao principal partido do poder.
E nós, à pala destes oportunismos políticos, porque o que se trata, no caso presente, é de uma clara procura de vantagens e dividendos sociais e de imagem política e não de aprofundamento político e eleitora do partido, vamos continuando a ver as eleições por um canudo cada vez mais comprido e estreito e com lentes cada vez mais sujas e fraquinhas.
Entrementes, não ficaria mal à classe política angolana, em geral, e da FNLA, em particular, e às autoridades do país, clarificarem as omissões e faltas de respostas de que se queixou o, até sábado passado, presidente, em exercício, Kabango.
Pois, nós, por cá, independentemente das nossas cores políticas, vamos continuando a esperar sentadinhos pelas eleições que nunca mais são, efectivamente, anunciadas.
Publicado no site "Africamente" em 26.Jun.2006