É normal nesta altura do ano fazermos um balanço das nossa actividades e das expectativas não concretizadas, esperando, sempre, que as mesmas se transfiram para o ano seguinte.
Para isso, quando chegamos ao último dia do ano, todos os artifícios servem. Desde vestir roupas interiores de uma determinada cor, comer doze passas ao bater das doze badaladas, correr para os lugares de cultos e ver o fogo de artifício agitando uma qualquer garrafa de espumante ou cerveja, etc.
Também entre o meio politológico, não deixa de acontecer o mesmo.
Clamamos que o que aconteceu no corrente ano não se repita. Que as eleições no país X ou Y decorram sem problemas; que os resultados sejam rapidamente anunciados e que os vencedores – além do próprio povo – sejam inequívocos; que as crises militares e os eternos Coup d’ États sejam uma miragem longínqua e um facto do passado; que os povos vivam em livres, com todos os seus direitos garantidos, sem problemas económicos; que os políticos e as instituições acabem com a corrupção e com o compadrio.
Ou seja; que no dia 1 do ano seguinte, todos acordem em perfeita harmonia social.
Mas, entretanto, chega o dia 2 e vemos que a realidade é a mesma.
Senão vejamos.
Apesar do propalado cessar-fogo decretado pelo governo de Cartum, o genocídio em Darfur continua e as suas populações continuam a braços com uma crise humanitária enorme (temos de recuar aos tempos de Biafra para descobrir um caso igual em África); o Zimbabwe mantém-se numa crise política e económica que os seus líderes parecem continuar a ignorar; as eleições que se prospectivam no curto e médio prazo não nos garantem uma verdadeira estabilidade política e social, nem mesmo militar (com os candidatos que se perfilam na Guiné-Bissau, as perspectivas são sombrias); o Sahel mantém-se instável, com o Mali a reforçar o seu poder militar, gastando cerca de 15% do seu fraco PNB em armas; a crise dos Grandes Lagos, apesar dos esforços conjuntos (ou desconexos) de Angola e África do Sul e da União Europeia.
Enfim, o calendário traz-nos de volta à realidade.
Mesmo assim, acredito nos Homens e na sua Boa Vontade.
É neste espírito que aproveito para desejar aos Semanário África e África-Hoje e aos seus leitores um Ano de 2005 com um mínimo de más notícias aliados a uma substancial melhoria social, política e económica.
Bom Ano de 2005.
Publicado no "Semanário África", edição de 27.Dez.2004, pág. 24 “Opinião”