Desde há muito que ouvia e lia que Jonas Savimbi teria tido negociações não só com os madeireiros que trabalhavam na zona controlada pela UNITA antes do 25 de Abril como havia contactado e celebrado acordos com o exército português para deixar de atacar este e se limitar a fazer o que todos os movimentos sempre fizeram: atacarem-se mutuamente.
A UNITA sempre negou, e continua a negar, estas afirmações, mesmo tendo em conta certas declarações do Mais Velho a um jornalista e investigador, creio que Freire Antunes, que sem o confirmar também não deixou de manter no ar, implicitamente, a dúvida.
E isso parece ter sido um facto indesmentível, pelo menos a fazer fé nas declarações dos responsáveis militares, na época, da Região Leste e em documentos apresentados – mas não fotos confirmadoras – que, em 1972, teria havido o tal acordo de não hostilidades tão amplamente divulgados quer na televisão que emitiu o programa, Guerra Colonial – excelente, diga-se em abono da verdade –, como por outros órgãos dos Média que dele fizeram a devida publicidade e propaganda. Teriam sido intervenientes, por parte de Portugal, o general Bethencourt Rodrigues, que liderou a chamada “Operação Madeira”, sob instrução directa do então general Costa Gomes, à época comandante-geral de Angola e em ligação o, nesse tempo, governador de Angola, Rebocho Vaz, e sob o natural conhecimento da DGS. Por parte da UNITA responsáveis político-militares da altura.
Mas também ficou claro, e ao contrário do que reafirmou o actual tenente-coronel (?) Otelo Saraiva de Carvalho, que não foi a DGS que criou a UNITA – basta recordar o ataque a então Teixeira de Sousa (actual Luau) em vésperas de um Natal – como pouco tempo depois as tréguas morreram e os ataques entre ambos foram bem mortíferos por vontade do novo comandante da região e por haver militares que nunca teriam aceite o referido acordo dado que teriam sido alvo, anteriormente, de ataques da UNITA.
E se este assunto merece relevo por ser propalado, não merece menos relevo, embora pareça que ande meio-mundo português distraído, as declarações do considerado cérebro do 25 de Abril, Otelo Saraiva de Carvalho quanto às preferências políticas dos militares do Movimento das Forças Armadas (MFA) português relativamente a Angola.
Segundo Otelo Saraiva de Carvalho, em declarações ao semanário angolano O País e citadas no portal Angola24Horas.com, os militares preferiam que o poder, em Angola, fosse entregue ao MPLA por considerarem – e nisso creio que todos, mesmos os que não pontuamos pela mesma ideologia e cartilha, estaremos de acordo – como melhor preparados e com mais condições para gerir e governar a Angola independente.
E por esse facto, algo que todos os que estiveram nessa altura em Angola e, diariamente, conviveram com os problemas políticos, sociais e militares por que passava Angola por inépcia de quem deveria ter procedido à descolonização de outra forma, já sabíamos, o senhor almirante Rosa Coutinho foi para Angola, como Alto-comissário incumbido de entregar o poder ao MPLA.
Além do mais, segundo Otelo Saraiva Carvalho, os militares portugueses não gostavam da FNLA – particularmente um, que ele não cita, mas que era voz corrente, dizerem ter sido passeado nu, dentro de uma jaula, na então Leopoldville – por causa dos massacres da UPA, no início da guerra de libertação, nem da UNITA por causa, e voltamos à estaca zero que parece ter sido, e bem, desmentida da sua formação ter sido feita pela PIDE/DGS.
Otelo Saraiva de Carvalho fala também do facto de saber que cubanos foram para Angola ajudar o MPLA na sua luta fratricida contra os outros dois movimentos irmãos depois de uma conversa havida entre ele e Fidel Castro, em Julho de 1975, que lhe terá pedido opinião.
Segundo o artigo, Otelo Saraiva de Carvalho terá aconselhado essa ida mas que fossem militares negros o que veio a acontecer uma semana depois da conversa e depois de verificar que o então conselho de revolução liderado pelo general Costa Gomes não lhe ter dado qualquer resposta.
Isto vem confirmar um facto, por mim presenciado no Lobito, em meados de Agosto, quando uma zona do porto desta cidade maravilhosa foi interdita, pelo MPLA, a toda a gente, incluindo forças militares portuguesas que estavam a “proteger” o embarque de passageiros com destino a Portugal e que ia provocando um confronto directo entre as duas forças militarizadas não fosse o bom senso e calma, reconheçamos, de um oficial português que se interpôs entre os dois quase contendores.
Na altura falava-se que eram militares estrangeiros, nomeadamente cubanos, que estavam a desembarcar como se pode, agora, conferir pelas palavras do tenente-coronel (?) Otelo Saraiva de Carvalho.
E eu estava lá e assisti calmamente, na natural inacção dos meus então 18 anos em que tudo só pode acontecer aos outros, este desembarque no molhe norte da bela cidade portuária do Lobito.
De notar que, na altura, era o MPLA que dominava a cidade depois de ter expulso a UNITA e a FNLA, com quem, diga-se, se dava sem problemas, apesar de já dominar Benguela, mas que atitudes demasiado prepotentes de uma pessoa, então responsável de um partido com sede na Caponte e que hoje anda de partido em partido sem conseguir se afirmar, provocaram a guerra entre os três e consequente vitória do movimento negro-rubro.
Aos poucos a história de Angola vai sendo escrita. Pena é que continuem a ser externos a fazê-lo enquanto – é que já passaram 35 anos, uma geração, – nós vamos continuando a negar evidências e esquecendo a História, por conveniência!…

Publicado no Notícias Lusófonas, na rubrica" Manchete", em 7.Mai.2009; inicialmente tinha o título de «Acordos: o desmontar de algumas verdades encobertas?» mas acabou publicado com o título “A UNITA e os acordos - O MPLA e os acordos
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