A Guiné-Bissau é, ou assim tem sido, convenientemente, considerado um País pobre, débil e sem grandes recursos económicos.
Assim é considerado, de facto; mas, historicamente, tem mostrado ser um poleiro apetecível para muitos que querem o poder, seja de que forma for, e seja de que ocultos interesses possam estar por detrás desse apetite.
Recorda-se os Coup d’État (Golpes de Estado), intentonas, atentados e vitimizações que nestes 33 anos de vida o País passou. Como também não se esquece a morte de alguns oficiais generais nunca esclarecidas.
Sabe-se que muito do dinheiro que a Comunidade internacional forneceu à Guiné-Bissau teve destino diferente do que os doadores prescreviam. Desde palacetes vistosos a viaturas de alta cilindrada ou compra de produtos não legalmente consumíveis muitas têm sido as acusações e nada a Comunidade fez para evitar o descalabro onde caiu o País.
Por outro lado a quase certeza de bons veios petrolíferos nas costas Bissau-guineense têm levado a que países vizinhos olhem para o País como uma futura província a ser integrada nesses países.
Simultaneamente, Guiné-Bissau foi, mais de uma vez e até pelas próprias Nações Unidas, acusada de ser uma plataforma circulante do narcotráfico entre a América Latina e a Europa e África. Onde estavam aqueles que, em tempos, derrubaram e prenderam um presidente de um país latino-americano por causa do narcotráfico? Onde estavam os polícias europeu que, periodicamente iam fazer cursos de formação a Bissau? Não tinham competências para dizer aos seus países basta? Ou as viagens também lhes eram proveitosas?
Depois da morte dos líderes as acusações vão ser vastas e as culpas morrerão solteiras se ninguém, nomeadamente, a CPLP não tomar conta da situação e colocar um ponto final da actual e difícil conjuntura da Guiné-Bissau.
De manhã um alto responsável do Governo português afirmava, segundo a TV pública portuguesa que a CPLP ir-se-ia reunir dentro de semanas para abordar a situação na Guiné-Bissau. Depois de ler as palavras do seu superior hierárquico e Ministro dos estrangeiros fiquei com a ideia que a prudência assim o mandava. Ou seja, ver como iriam se desenvolver os movimentos militares em Guiné-Bissau. E sabendo que no País estão os militares regulares e centenas de “aguentas” até se compreendia a prudência.
Só que mais tarde um representante da CPLP afirmou, através da mesma entidade televisiva, que iria ser convocada uma reunião de emergência e de urgência da comunidade para abordar a situação na Guiné-Bissau. Ou seja, a presidência em exercício e o secretariado não se entendem ou, continua a valer velha política portuguesa de “não te metas em assuntos internos dos outros” mesmo que isso seja contrário aos interesses da Comunidade Lusófona, em geral.
Para alguma coisa a maioria das informações sobre os dois atentados que vitimaram os dois líderes Bissau-guineense são estrangeiros quando a RTP e a Lusa até tinham – e ainda têm penso – correspondentes no País…
E quando os problemas são – ou parecem indiciar – motivados por comandos de grupos empresariais de actividades pouco lícitas – recordemos o que transportavam dois aviões aprendidos e quem depois quis ficar com o seu conteúdo – e em terreno estão forças militarizadas bem armadas e, parece, decapitadas dos seus dois líderes por estes não terem sabido, ou não querido, partilhar o “seu estreito e lucrativo poleiro”.
Por isso, volto aqui a sugerir algo que já o fiz, há momentos a um jornalista Bissau-guineense sobre o que, na minha opinião, deveria fazer a CPLP, embora se fosse guineense não gostasse da ideia mesmo que a mesma pareça plausível.
E o que penso é muito simples. Dado que os militares que estão na Guiné-Bissau, nomeadamente os seus quadros superiores, ainda enfermam de resquícios da guerrilha em detrimento dos modernos valores castrenses de se limitarem à defesa da integridade territorial e política do Pais e deixar o Poder aos políticos, seria conveniente que a CPLP, temporariamente, assumisse o controlo militar e recriasse umas forças armadas modernas e claramente dependentes do poder político.
Utópico, intervencionista, absurdo? talvez, admito! Mas seria uma forma da CPLP mostrar que realmente é uma Comunidade de Países que defende os interesses dos seus Estados-membros e não um grupo que diz defender a Lusofonia e se reúne, a espaços, para tratar de assuntos que, não poucas vezes, passam ao lado das populações dos Estados-membros.
A não ser que esperem que um dos membros assuma esse risco e, depois, não clamem como uma forma de intervenção e ocupação…
E, já agora, bom será que a Comunidade esteja atenta a certas movimentações que, possivelmente, poderão ser efectuadas por um antigo candidato, e sempre putativo presidente que nunca aceitou a deposição, junto de militares da sua “família” étnica para a (re)tomada do poder…
A minha análise que serviu de base ao artigo/manchete de Mafalda Sá Norte, do Notícias Lusófonas, sob o título “Narcotráfico, miséria e ditadura fazem explodir a Guiné”, em 2.Mar.2009 ( o artigo incluía, também, a análise do jornalista Orlando Castro, como contraponto