Há pouco tempo escrevi um artigo de Opinião sobre a existência ou não de isenção na Comunicação Social angolana.
Não esperava o impacto que o mesmo teve; nem tão pouco os comentários que suscitou.
Por esse facto volto à questão, desta feita, tentando analisar a Comunicação Social (CS) no largo espaço lusófono, com particular incidência, como seria de esperar, sobre Angola.
De uma maneira geral a CS (desculpem mas não gosto da aportuguesada palavra inglesa “media” e por outro lado gosto muito, sempre que possível, de utilizar o português) lusófona vive de expedientes vários (anúncios, notícias “baratas” e/ou “encomendadas”) para sobreviver. Falta-lhe dinheiro, mesmo aos grandes empórios comunicacionais como a Rede Globo, no Brasil, ou os grupos Media-Capital e Impresa, e a Global-Notícias – até há pouco detida pelo grupo PT –, em Portugal. No resto do Mundo lusófono nem é bom falar.
Mas está tudo mal. Não, é evidente que não.
Apesar de tudo subsistem alguns órgãos que, através da Net, vão tentando manter uma certa equidistância das “sombras” económica e políticas que, com maior ou menor incidência, se abatem na CS escrita e falada que, na maioria dos casos, não conseguem se alhear. Lembremo-nos do Notícias Lusófonas, AngoNotícias e Africamente. Do resto, um vazio.
Mas, tentemos analisar caso a caso a CS no espaço lusófono.
Em Portugal, alicerçado numa democracia de 30 anos, a CS permite-nos um amplo espaço de escolha. Vai desde a CS generalista á política, passando pela desportiva. Mas nem por isso estamos livres de ver notícias que fariam, provavelmente, encarminar Johann Gutemberg, o pai da escrita moderna.
Reparamos, com uma acuidade, que começa a ser excessiva, surgirem notícias que, pelas suas características, nos fazem crer terem sida pagas para aparecerem com a magnitude que aparecem. Então, notícias de certos proto-ditadorzecos, que ora querem a manutenção do poder, ora querem lá chegar de qualquer forma, nem se fala.
E não se pense que este apoio se consubstancia só a para puros lusitanos. Pelo contrário. São mais as vezes que para outras latitudes lusófonas surgem esses apoios. E, por vezes, de uma forma descarada. Relembremos o que se passou em Fevereiro quando “alguns” a mando ou não de “alguém” angolano encomendou artigos que favorecessem “terceiros” ou como notícias da oposição angolana não raras vezes são pura e simplesmente ignoradas ou colocadas em locais discretos.
Ou como o NL, ironicamente, titulava ser mais fácil se falar de uma bitacaia que atacasse dos Santos do que falar nalguma visita ou iniciativa de dirigentes da oposição.
Certo! Respeitemos as simpatias políticas de cada um.
Já no Brasil, a CS é forte e não mostra simpatias claras pela generalidade da classe política do país. Pode acontecer que a mesma aconteça pontualmente. Mas, conforme hoje defende e aplaude uma determinada individualidade ou entidade também é verdade que logo de seguida, e caso se justifique na linha editorial dos periódicos brasileiros, descambá-los sem dó nem piedade. Collor de Melo que o diga.
Ao contrário dos portugueses a CS brasileira não depende, de maneira alguma, do poder económico instituído.
O mesmo se passa em Cabo Verde, onde a CS é, totalmente autónoma do poder político. Não se quer dizer com isto que não tenha e não demonstre as suas simpatias políticas quando se justifique. Mas não mostra subserviência.
Pois do mesmo já não podemos dizer em Angola e Moçambique. Que de São Tomé e Guiné-Bissau, como referiu em tempos David Borges numa Conferência patrocinada pela Liáfrica, em Maio de 2004 “1º. Congresso dos Quadros do Espaço Lusófono” a imprensa nestes dois países quase não existem, salvaguardando-se os meios audiovisuais que vão fazendo por elucidar, dentro dos condicionalismos que se lhes reconhece, as populações locais. Timor vai entrando, aos poucos, no seio da família comunicacional jornalística.
Sobre Moçambique, reservo-me para outra altura. Agora só relembrar que o apagamento de Carlos Cardoso continua por esclarecer.
Mas voltando a Angola.
Há pouco tempo alguém dizia os principais órgãos angolanos a TPA, RNA, e Jornal de Angola, só publicavam o que seria do agrado do governo, e que quem saísse da linha editorial, seria sumariamente despedido.
Ou seja, para o comentarista existe no país corrupção evidente que nem jornais tidos como independentes como o Semanário Angolense ou a Capital se podem dissociar. Mais, por motivos mais políticos que sociais, a questão rácica tem sido trazido à ribalta por um órgão angolano no que tem sido como que encomendado por “alguém” que deseja transformações políticas a qualquer meio.
Fernando Heitor num interessante artigo de opinião no AngoNotícias é bastante crítico não tanto para o referido órgão, que na sua concepção deveria ser louvado por trazer à ribalta um problema tão cadente como a xenofobia (situação que Portugal viu, recentemente, retratada num relatório do Observatório Europeu dos Fenómenos Racistas e Xenófobos), mas devido às reacções que gerou, em particular no seio das famílias políticas e económicas angolanas.
Face a estas situações não é de admirar que a Igreja Católica, quer em Angola, principalmente, por via da Rádio Ecclesia, quer em São Tomé, através da Rádio Jubilar, se manifeste contra as dificuldades com que se depara em fazer chegar a sua voz a todo lado.
Ora um dos principais suportes da corrupção é o amordaçamento dos meios comunicacionais.
Quem controla a CS controla o povo; coarcta qualquer medida de protesto.
Por alguma razão, quando surgem crises institucionais e “Coup d’ États”, os meios escritos e audiovisuais são sempre os primeiros a serem controlados a par dos militares e paramilitares.
Por alguma razão os regimes corruptos não desejam uma CS livre e potencialmente soberana.
Da miséria nasce da corrupção politica, depois vem a económica, e depois a corrupção da informação. E é bom lembrar que grandes ditadores assim nasceram. Não nos esqueçamos de como Hitler tomou o poder; ou de como foi a CS que impediu Faure Gnassingbé tomar o pleno poder no Togo, após a morte do pai; ou como tem sido a infame imprensa que tem denunciado os desmandos de Mugabe.
Publicado sob forma de Entrevista/Resumo no “Notícias Lusófonas” com o título “Os corruptos não querem a liberdade de Imprensa” em 22 de Março de 2005 (http://www.noticiaslusofonas.com/view.php?load=arcview&article=9418&catogory=Manchete)