À partida o título parece indicar alguma incongruência ou uma certa inconstância do autor.
Guinés versus Guinés, se, realmente, só em África existem logo 3 Guinés e, por acaso, as três estão em mesma área económica ou político-linguísticas; a Guiné-Bissau e a República da Guiné, mais reconhecida por de Conakry, pertencem à Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e à Francofonia; já a Guiné-Bissau e a Guiné-Equatorial pertencem à CPLP e à zona económica do Franco CFA.
Mas não só.
E é isso o que me leva a esta análise já que os três países, além das paridades acima, têm mais coisas em comum.
As três são dirigidas por outros tantos autocratas, sendo que os senhores no poder tê-lo-ão sido, teoricamente, através da via popular – teoricamente porque no caso de Bissau e segundo acusações de Yalá o voto terá sido “imposto” pela União Africana e segundo a CNE terão havido mais votos que votantes – e três têm mantido os seus países no mais completo subdesenvolvimento e com populações no limiar da completa pobreza – e no caso de Bissau, que tem recebido amplos apoios financeiros internacionais e a Equatorial que é rica em petróleo essa pobreza é inqualificável ao ponto de serem os camaroneses a “alimentarem” as populações equato-guineense.
Na de Bissau um deputado por ter dito o que pensava – e provavelmente disse-o porque sabe mais do que imaginamos, já que segundo parece (basta ler um artigo de F.Casimiro aqui nestas páginas) até terá sido “sócio” do acusado – recebeu ordem de detenção directamente da presidência via Ministro do Interior sem passar, como seria natural num país democrático e respeitador da separação de poderes, pelo Procurador-geral da República; em Conakry as acusações de compadrio, corrupção e da má utilização de fundos públicos levaram o presidente Lansana Conté e seus aliados a atacarem o povo que se manifestava e deter os sindicalistas que tinham decretado greves de protesto contra a situação no país; já na Guiné-Equatorial temos o 7º presidente mais rico do Mundo – a sua fortuna, segundo a Forbes, está avaliada em 600 milhões de USdólares – num país cuja população está entre as mais pobres.
Tal como na Guiné-Bissau, também o actual presidente da Guiné-Equatorial, gen. Teodoro Nguema Mbasogo começou por ascender ao poder através de um golpe de Estado militar, em Agosto de 1979, mais tarde, ratificado em plebiscito popular por 97,1% dos votos colocados nas urnas; na República da Guiné, embora não tenha havido um golpe propriamente dito, Conté começou por ser chefe de um governo militar que foi eleito presidente em 1993 e reeleito, com a simbólica expressão de, somente, 95,3%, em 2003.
Nos três países a pobreza na população e o endividamento é ponto comum. Todavia constata-se que há países que conseguem ter rendimentos per/capita muito inferiores e com populações menos empobrecidas. Enquanto a Guiné-Bissau apresenta um rendimento que não vai além dos, ainda assim razoáveis, 900 dólares e a República da Guiné dos 2.000 rendimento só dólares já a Guiné-Equatorial dá-se ao luxo de apresentar um só equiparável aos países ricos… 50.200 dólares (valores estimados para 2006). Pois se os dois primeiros países apresentam rendimentos apresentáveis, já o seu endividamento é incomensurável para aquilo que produzem: Guiné-Bissau tem uma dívida externa de próxima dos 750/900 milhões de dólares e a Guiné-Conakry de 3.460 milhões; já a Guiné-Equatorial não vai além dos 289 milhões de dólares.
Perante estes números como podem estes três países podem continuar a subsistir no sistema internacional sem que a Comunidade Internacional diga algo?
E nos três casos continua a verificar-se uma constante e continuada anormalidade da União Africana se manter calada.
Até quando?
Publicado no Notícias Lusófonas/Colunistas em 29/Jan/2007 (http://www.noticiaslusofonas.com/view.php?load=arcview&article=16265&catogory=ECAlmeida)