O Secretário-executivo da CPLP, o embaixador Luís Fonseca, admitiu há dias que a expressão “Lusofonia” ainda provoca algum certo desconforto junto de alguns sectores intelectuais e de dirigentes, nomeadamente, nos países onde as memórias de crises coloniais mais se fizeram sentir.
Segundo o Secretário-executivo, sobretudo “nos países africanos, registam-se dúvidas sistemáticas sobre a validade do conceito da Lusofonia enquanto factor de identidade supranacional”. Para eles a Lusofonia “é, por vezes, entendida como uma forma de tentativa de hegemonia da língua portuguesa sobre as línguas nacionais, da cultura portuguesa sobre as restantes”.
Não poderia estar mais correcto o Secretário-executivo da CPLP excepto, talvez, pelo facto de ele se ter circunscrito aos países africanos e esquecendo-se do Brasil e de Timor-Leste.
É certo que, nomeadamente em Angola e Moçambique que a expressão “Lusofonia” é acolhida com certo esgar e não menos estranheza, apesar desta palavra representar muito mais que uma mera expressão linguística, como se provou no recente encontro entre jovens da CPLP, ocorrido recentemente em Moçambique.
Relembro de há cerca de um ano um antigo Ministro angolano das Finanças e ex-Governador do Banco de Angola no lançamento de um seu romance, na Casa de Angola, em Lisboa, se referir à CPLP e à Lusofonia como dois veículos de interesses coloniais e neocoloniais de Portugal e Brasil e que entre a classe política angolana essas duas expressões só serviam para justificar interesses económicos e abertura política.
Mas é precisamente do Brasil que mais recebo críticas à expressão “Lusofonia”.
Para muitos esta expressão mais não é que uma invenção dos portugueses para perpetuar a sua dominância linguística e sobranceria europeia. Precisamente para aquilo que o embaixador Luís Fonseca chamou a atenção quanto aos países africanos.
Mas, paradoxalmente, ou talvez não, são os portugueses – alguns portugueses – e, de certa forma, os angolanos e moçambicanos que acusam os brasileiros de quererem assumir um protagonismo e uma ditadura na escrita e na língua portuguesa.
Alguns portugueses contestam o já celebérrimo Acordo Ortográfico, na versão nº 3 – ou seja, o II Protocolo –, enquanto os angolanos e os moçambicanos dizem ainda ser cedo para se decidirem, ou não, ratificar o Acordo.
Enquanto isso, os Timorenses vão capitalizando ajudas da CPLP – quase sempre com atrasos incomensuráveis – mas sem se decidirem a incrementar o estudo e a aplicação da língua portuguesa (uma das duas oficiais segundo a Constituição) no País.
Timor-Leste pode ser, ainda, um país pobre, mas sabe que toda a sua economia vive em função de uma clara subordinação face aos seus dois principais vizinhos, a Indonésia e a Austrália.
E estes dois países vêem, e demonstram, com certo desconforto face a um eventual fortalecimento da Lusofonia na região.
Publicado no Portugal em Linha «Lusofonia», em 28 de Maio de 2008