Se há algo que os lusófonos, de uma maneira geral, adoram é utilizar expressões anglófonas (a maioria) e, ou, francófonas nas suas conversas.
Quantas vezes não ouvimos portugueses, nomeadamente os que estão na migração, intercalar galicismos (a grande maioria vive em França, Benelux ou Suíça), por vezes e não poucas vezes, sem qualquer sentido e, ou, oportunidade.
Recordo, nomeadamente, no início dos anos 70, do século XX quando vim a Portugal passar umas férias para os meus pais recordarem o País de onde tinham saído mais de 20 anos antes, as anedotas que se contavam em Portugal sobre os “franceses” que erguiam casas, do tipo “la maison”, com janelas, do tipo “la fenêtre”.
Mais tarde, e por via das televisões e dos programas brasileiros que se começaram a degustar, quantos termos anglófonos, nomeadamente de origem norte-americana, não ouvíamos quase em sequência.
Ainda hoje, nomeadamente no futebol, ouve-se mais os ternos originais anglófonos como corner (apesar de já se ouvir intercaladamente escanteio/canto), gol (de goal, em vez de golo), keeper (em vez de guardião/guarda-redes), record (em vez de registro/registo), post (em vez de apontamento/postal), ou aportuguesada como esporte (de sport).
Mas outras palavras entraram no vocabulário lusófonos que, apesar de já integradas no Dicionário Universal com alterações oficialmente aportuguesada ainda são mais faladas na versão anglófona que lusófona; salvo na versão brasileira que desde sempre utilizou aquela que iria dar a versão oficial actual. Recordo, de imediato, as palavras “estresse” (stress) ou “estoque” (stock); a maioria dos lusófonos, nomeadamente portugueses, mantém o hábito de utilizar a expressão anglófona.
Tudo isto por causa de uma expressão desportiva anglófona que está a colocar a Liga de Futebol Portuguesa (LPFP) e a sua Taça da Liga em polvorosa.
Quando a LPFP criou a Taça da Liga, na versão actual, entre outros parâmetros, uma das opções para apurar o melhor segundo classificado para as meias-finais da prova seria o “goal-average”. Ou seja, a média resultante de golos marcados versus sofridos; ou, por outras palavras mais correctas, o quociente entre golos marcados e sofridos e não, como, provavelmente, o “legislador” do Regulamento da Taça, pensaria – assim penso eu que terá pensado – a diferença entre golos marcados e sofridos.
A culpa talvez não seja do “legislador” que de tanto ouvir e ler esta expressão e o modo como os gráficos classificativos são apresentados, assumiu-a, naturalmente, como sendo a diferença de golos marcados e sofridos.
É o que dá o provincianismo daqueles que pensam falar “estrangeiro” no meio de frases lusófonas (ou outras) lhes dá mais garantias de intelectualidade e projecção nos Mídia/Média.
E lá estou eu, também, a utilizar um anglicismo quando em português existe a lusófona Comunicação Social!
Publicado no portal da Lusofonia “Portugal em Linha”, na rubrica de Debate “Lusofonia”, em 27 de Janeiro de 2009