(2012) Carta aberta ao Governo: se todos somos angolanos…
Diz a nossa Constituição, no seu art.º 9, e entre outros itens, que é Angolano todo o cidadão que tenha por origem ser filho de pai ou de mãe de nacionalidade angolana, ser nascido em Angola ou no estrangeiro.
Ora, se todos somos Angolanos, independentemente do lugar onde estivermos – o nº 4 deste mesmo artigo isso o reforça quando diz que “Nenhum cidadão angolano de origem pode ser privado da nacionalidade originária!” – não se compreende que não usufruam de todos os direitos que a eles deveriam estar subjacentes.
Não, caros ilustres membros do Governo da República, não vou falar na tão abordada quanto já estéril discussão do direito dos angolanos na Diáspora em participar no mais alto dever de um angolano, enquanto cidadão, que é votar!
Não, desta vez, dou descanso quanto a isso.
Caros ilustres membros do Governo da República; a cidadania faz-se por diversas vias e através de diversos caminhos.
Um dos caminhos é a nossa participação no apoio às nossas selecções nas diversas modalidades quer através das nossas idas aos estádios e pavilhões quer, e no caso das Diásporas, ainda mais, por via do acompanhamento das emissões televisionadas das diferentes actividades lúdicas, como, por exemplo, dos jogos da nossa selecção de futebol – entre outras modalidades – quer para o CAN quer para os Mundiais de Futebol.
Por isso não se entende que uma importante partida do nosso seleccionado – tão importante que conjuga CAN e eliminatórias para o Mundial – não tenha sido (re)transmitido pela nossa – e única – televisão nacional, a TPA, para a enorme comunidade que (sobre)vive no exterior.
Mais grave, ainda, quando a TPA faz uma enorme referência no seu portal de ser a que mais elementos teria no Estádio 11 de Novembro, onde ocorreu o jogo que nos opôs à Uganda.
Os que estamos na Europa não pudemos seguir pela TPA; pelo menos os que para a ver têm de aderir a um sistema de retransmissão de imagem paga.
Reclamei através do portal social da TPA e, até ao presente, não obtive qualquer resposta. Fi-lo, também, na minha página e… surpresa! soube que os direitos televisivos teriam sido “oferecidos” a uma empresa privada de sinal fechado.
Ora, que se saiba, a nossa população, e falo dos angolanos que vivem no País, não são tão abonados que possam usufruir de canais em sinal pago para ver a nossa selecção.
Somos ricos, mas é o País território e não o País real!
Mas se a surpresa já era enorme, maior ainda quando, da outra margem do Atlântico chega uma mensagem que me atordoou por completo. Eles conseguiram ver o jogo via TV.
Nos Estados modernos, civilizados e onde o primado nacionalista – de nacionalidade e não de individualismos políticos – é mais importante que os negócios privados de uns quantos, os jogos das selecções, quaisquer que sejam as modalidades, devem ser sempre transmitidos em sinal aberto e acessível a todos! A Todos!
Por isso, caros ilustres membros do Governo da República, em meu nome e em nome de muitos compatriotas que se viram privados de acompanhar as venturas e desventuras da nossa selecção, de cantarmos o nosso hino no início da partida, de verberarmos o “maldito” golo que sofremos a dois/três minutos do fim, e recordando que vamos ter um próximo e importante jogo já em breve, solicito que seja abordado numa das próximas e imediatas sessões governativa uma alteração legislativa que permita a todos – a TODOS – acolherem nas suas casas os jogos das nossas selecções.
Independentemente que quem comprou os direitos de transmissão.
Que forneça, evidente contra uma compensação financeira devida – o devido sinal.
Que o próximo jogo de Angola, ou os próximos jogos – até porque vamos começar o campeonato pré-olímpico de basquete e depois os jogos olímpicos de Londres – já sejam transmitidos em canal aberto, ou seja, pela TPA.
Ficamos à espera de uma atitude inteligente – e é certo que o nosso Governo sabe sê-lo – muito em breve.
Até para evitar que a TPA gaste tanto dinheiro com tantos elementos no Estádio e, depois, nos defraude com a sua não emissão.
Como também não conseguimos aceder via Internet às emissões de rádio desportivas. Só à RNA e à Rádio Luanda que nem informações iam dando…
Publicado no semanário Novo Jornal, edição 229, de 8.Jun.2012, página 30