11 de Novembro de 1975, Angola conquista a sua independência após uma longa luta contra o colonialismo português. Só que… a alegria do momento foi, no entanto, eclipsada por um conflito interno que se transformaria em uma das mais brutais guerras civis da África, durando até 2002. Este orate conflito não apenas devastou o país em termos de infra-estrutura e vidas perdidas, como também lançou raízes profundas de divisão entre diferentes grupos étnicos e políticos.
A guerra-civil teve as suas origens, ainda antes da independência e durante o período transitório, nas disputas pelo poder entre os principais movimentos que lutaram pela independência: o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) e o Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA).
O MPLA, que se tornou o partido no poder e tinha o apoio político-militar da União Soviética e de Cuba, enfrentou a UNITA, que, por sua vez, contava com o apoio de várias potências estrangeiras, como os Estados Unidos e a África do Sul. Esta insana luta pelo controle conduziu a um cenário de crise política e social, prejudicando o desenvolvimento do país e criando um legado de pobreza e desigualdade, só terminando em 4 de Abril de 2002.
Nos anos que se seguiram à independência, a esperança entre os angolanos foi rapidamente substituída pela frustração e desilusão. O ambiente de instabilidade levou a uma migração em massa, com muitos angolanos em busca de melhores condições de vida em outros países. A reestruturação política e a pacificação no pós-guerra abriram caminhos para um “novo governo” sob a continuada presidência de José Eduardo dos Santos (que governou o país durante 38 longos anos). Esta sua “nova liderança” foi marcada por avanços em termos infra-estruturais e de crescimento económico, baseados na mono-economia do petróleo e enquanto este esteve em alta, mas também foi caracterizada por acusações de corrupção e autoritarismo.
Nos últimos anos, a presidência de João Lourenço trouxe esperanças renovadas de mudança. Desde que assumiu em 2017, Lourenço tem tentado implementar reformas para combater a corrupção e melhorar as condições de vida da população. No entanto, a realidade continua a ser pouco satisfatória, mas, espera-se, que continue desafiadora. A persistência de altas taxas de desemprego, especialmente entre os jovens – em particular, entre jovens de elevado índice de educação escolar –, e a falta de acesso a educação de qualidade são questões que continuam a desestabilizar a nossa sociedade.
A juventude angolana, que representa uma grande parte da população, enfrenta desafios imensos. As gerações mais novas cresceram em um ambiente marcado por conflitos sociais e promessas não cumpridas. Embora existam melhorias em áreas como comunicação e tecnologia, muitos jovens continuam a se sentir desiludidos e alienados. A falta de oportunidades de emprego e a frustração em relação à continuada acusação de corrupção governamental geram um sentimento de impotência entre aqueles que (des)esperam por um futuro melhor.
Entrementes, isso leva a que exista – que se mantém – um forte desejo de mudança. Movimentos de jovens têm emergido, exigindo mais transparência, educação de qualidade e oportunidades. A esperança por um Angola mais próspera e igualitária reside na capacidade dos nossos jovens de articular seus sonhos e reivindicações num cenário que, embora complexo, ainda parece poder oferecer algumas possibilidades de transformação.
Nestes 49 anos de independência, Angola continua por e a se reinventar. Os desafios são muitos, mas a força e a resiliência do nosso povo, especialmente da juventude, abrem caminho para novas eras de esperança e renovação. As expectativas de um futuro mais justo e sólido permanecem, e a juventude angolana, armada com conhecimento e determinação, pode ser a chave para um novo capítulo na história do país.
Assim os nossos governantes o consigam entender.
Publicado no Novo Jornal, edição 862, de 8.Novembro.2024, pág. 27 (para aceder ao portal, clique aqui ou na imagem; ou ao pdf aqui)