Eugénio Costa Almeida
Título: Complexos portugueses limitam investimentos (Política externa ou complexos portugueses em África?)

Portugal mudou de titular do Ministério dos Negócios Estrangeiros, mas parece que a política é a mesma. Ou seja, não há uma política externa clara e eficaz para com os países afro-lusófonos, ou comummente reconhecidos por PALOP.
Dir-me-ão, mas não é cedo para tão rápida crítica quando ainda o novo inquilino do Palácio das Necessidades (isto não lembra outra coisa?), Luís Amado, ainda mal teve tempo de se sentar na sua nova cadeira?
Admito que, e outras circunstâncias, seria de mau tom fazer uma afirmação tão rápida e quase tão extemporânea.
Mas a actual realidade da política externa portuguesa, no geral, e a de e com os PALOP, em particular, mostram o contrário.
No âmbito de um fórum organizado pelo Diário Económico “III Fórum África” Luís Amado terá afirmado que Portugal tem de mudar as suas linhas externas, nomeadamente em África, que tem de ser mais ambiciosa; é que, na sua opinião, ter-se-á concentrado, em demasia, nos PALOP.
Mudar porque quer ser mais ambiciosa…
Para quê? Para obter mais petróleo da Líbia? Mais gás natural da Argélia? Mais redes móveis em Marrocos? Distribuir mais militares por outros países africanos, ao abrigo da ONU/UE, como no Congo Democrático? Pedir à África do Sul que proteja melhor os lojistas portugueses nos arrabaldes das principais cidades sul-africanas? Colocar-se em bicos de pés na União Africana como tem sido apanágio da política externa portuguesa, que se considera sempre pequenina face aos “tubarões” seus parceiros?
Mudar porque se tem concentrado demais nos PALOP…
Sejamos honestos! Portugal já há muito que não tem tido uma relação privilegiada com os PALOP, salvo quando algum Chefe de Estado ou de Governo quer fazer uma visita de cortesia levando cerca de 1/3 do Produto Interno Bruto para amostra. Relembrava a visita de José Sócrates a Angola cujos resultados imediatos pouco ou nada se vêm.
De imediato o que se perspectiva é que foi uma visita política e para amostra; organizações e entidades que contactam os empresários idos sobre a probabilidade de apoio àqueles levam, ou têm levado, em regra, com resposta um… “Nada!”.
A mudar alguma coisa, e há muito para mudar, dever-se-ia por começar, com clareza e sem quaisquer tibiezas, por fomentar o ensino do Português nos 5 países que a adoptaram como Língua Oficial. Pôr os olhos na Francofonia. Há muitos países francófonos que as populações falam com o mesmo à vontade o francês como as línguas locais, ou nacionais. Pode-se dizer o mesmo da Guiné-Bissau, onde, incluindo dirigentes nacionais, mal falam, ou menos não sabem falar uma palavra de português? E Cabo Verde, os trabalhos telejornalísticos que vão chegando aos nossos televisores mostram que a maioria só conhece o crioulo. Já não o será tanto em São Tomé e Príncipe e em Moçambique, e, claramente, não o é em Angola, onde quase toda a gente fala – mal ou bem, mas fala –, o português.
Parece-me que, com Luís Amado, está-se a voltar a velha política externa portuguesa da esquerda envergonhada pelo fantasma do “neo-colonialismo”. Por quanto?

Publicado no "Jornal d’ África", ed. 3 de 11-08-2006, pág. 12 (suplemento do Público).
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